sexta-feira, 19 de junho de 2009

O que é Filosofia?

Filosofia é a capacidade de manter sempre em vista uma utopia que – como um horizonte – jamais será alcançada; mas que nos faz caminhar, ao invés de parar e ficar pastando feito cordeirinhos mansos à espera do abate.

Martinho Carlos Rost

As pessoas têm passatempos diferentes. Enquanto umas dedicam seu tempo livre a trabalhos manuais, outras praticam algum esporte, vão ao cinema, assistem tevê ou "navegam" na Internet. Há, também, as que gostam de ler – e, em se tratando de leitura, enquanto umas se entretêm com jornais ou revistas, outras preferem livros. Gosto não se discute. Se você se interessa pelas fofocas do mundo artístico, há quem se interesse por verbetes de alguma enciclopédia; se você acompanha todos os jogos de algum campeonato, precisa aceitar que há quem considere isso uma chatice.

Preferências pessoais à parte, será que existe alguma coisa que interesse a todos, sem exceção? Existem, sim, questões que deveriam interessar a todas as pessoas. E é sobre tais questões que trata este artigo.

Qual é a coisa mais importante da vida? Bem… A resposta depende daquele a quem a pergunta é formulada. Quem está com sede, responderá: “Água”. Quem está com fome: “Comida”. Quem vive ao relento: “Abrigo”. Quem está atolado em dívidas: “Dinheiro”.

“Saco vazio”, diz o ditado, “não pára em pé”. Mas, uma vez satisfeitas as nossas necessidades físicas, restará algo a satisfazer? Claro que sim! Uma vez satisfeito o corpo, vêm as necessidades da mente e suas perguntas inquietantes: “Quem somos?”, “De onde viemos?”, “Para aonde vamos?”, “Por que vivemos?”. Interessar-se por tais questões é tocar um problema que acompanha o ser humano desde sempre – e tentar ignorá-las é abdicar da condição humana, fazer-se refém de toda sorte de charlatões, transformar-se em coisa e ser consumido pelo fogo da vulgaridade.

O que é “certo”? O que é “errado”? Há algo de “absoluto” que sirva de referência às nossas ações? Ou será tudo “relativo”, dependendo de época e de lugar? Deus existe? Ou será que inventamos deuses e os fazemos portadores de nossas “verdades” e de nossos interesses? Perguntas assim sempre foram feitas, independentemente de tempo e de lugar. São perguntas que não querem calar! Perguntas que fazem de nós seres pensantes – e não, tão-somente, seres viventes. Perguntas que nos unem naquilo a que podemos dar o nome de “comunidade humana”. Perguntas que questionam – e sempre questionaram! – aquilo que está posto como “verdade” mas que não nos convém. Perguntas… filosóficas.

O que é Filosofia? Filosofia é a faculdade de manter viva a curiosidade da infância e a rebeldia da adolescência. Filósofos são como crianças que não cessam de se admirar (Platão) e de se espantar (Aristóteles) diante de um mundo que parece renascer novo a cada aurora. Filósofos são como adolescentes que não aceitam os limites impostos pelo “já pensado”, pelo “já dito” e pelo “já feito”. Filosofia é a capacidade de manter sempre em vista uma utopia que – como um horizonte – jamais será alcançada; mas que nos faz caminhar, ao invés de parar e ficar pastando feito cordeirinhos mansos à espera do abate.

Para um filósofo, a busca começa onde termina a busca daqueles que, como burros, andam em círculos perseguindo a cenoura que lhe é oferecida por aqueles que exploram seu trabalho. Filósofos sabem que as respostas jamais serão encontradas nos jornais, nas revistas, nos livros, na tevê ou na Internet – mas sabem que, como numa história policial, mesmo que um crime jamais seja solucionado, a solução existe e depende dos que persistem em buscá-la. Filosofia não é para quem espera acontecer: é para quem sabe e faz a hora.

“Para muitas pessoas”, escreve Jostein Gaarder em O mundo de Sofia, “o mundo é tão incompreensível quanto o coelhinho que um mágico tira de uma cartola que, há poucos instantes, estava vazia.” Mas uma coisa é sabermos que isso não passa de um truque de mágica; outra, bem diferente, é nos colocarmos no lugar do coelhinho e nos darmos conta de “que estamos fazendo parte de algo misterioso” que “gostaríamos de poder explicar”. Filósofos talvez sejam isso: “Bichinhos microscópicos que vivem na base dos pêlos do coelho” e que se erguem “a fim de poder olhar bem dentro dos olhos do grande mágico”.

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