quinta-feira, 28 de maio de 2009
NOSSOS DIAS MELHORES NUNCA VIRÃO?
Ando em crise, numa boa, nada de grave. Mas, ando em crise com o tempo. Que estranho "presente" é este que vivemos hoje, correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida, como se nossos músculos, ossos e sangue estivessem correndo atrás de um tempo mais rápido.
As utopias liberais do século 20 diziam que teríamos mais ócio, mais paz com a tecnologia. Acontece que a tecnologia não está aí para distribuir sossego, mas para incrementar competição e produtividade, não só das empresas, mas a produtividade dos humanos, dos corpos. Tudo sugere velocidade, urgência, nossa vida está sempre aquém de alguma tarefa. A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas, fábricas vivas, chips, pílulas para tudo.
Temos de funcionar, não de viver. Por que tudo tão rápido? Para chegar aonde? A este mundo ridículo que nos oferecem, para morrermos na busca da ilusão narcisista de que vivemos para gozar sem parar? Mas gozar como? Nossa vida é uma ejaculação precoce. Estamos todos gozando sem fruição, um gozo sem prazer, quantitativo. Antes, tínhamos passado e futuro; agora, tudo é um "enorme presente", na expressão de Norman Mailer. E este "enorme presente" é reproduzido com perfeição técnica cada vez maior, nos fazendo boiar num tempo parado, mas incessante, num futuro que "não pára de não chegar".
Antes, tínhamos os velhos filmes em preto-e-branco, fora de foco, as fotos amareladas, que nos davam a sensação de que o passado era precário e o futuro seria luminoso. Nada. Nunca estaremos no futuro. E, sem o sentido da passagem dos dias, da sucessibilidade de momentos, de começo e fim, ficamos também sem presente, vamos perdendo a noção de nosso desejo, que fica sem sossego, sem noite e sem dia. Estamos cada vez mais em trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção. Não há tempo para os bichos. Se quisermos manhã, dia e noite, temos de ir morar no mato.
Há alguns anos, eu vi um documentário chamado Tigrero, do cineasta finlandês Mika Kaurismaki e do Jim Jarmusch sobre um filme que o Samuel Fuller ia fazer no Brasil, em 1951. Ele veio, na época, e filmou uma aldeia de índios no interior do Mato Grosso. A produção não rolou e, em 92, Samuel Fuller, já com 83 anos, voltou à aldeia e exibiu para os índios o material colorido de 50 anos atrás. E também registrou, hoje, os índios vendo seu passado na tela. Eles nunca tinham visto um filme e o resultado é das coisas mais lindas e assustadoras que já vi.
Eu vi os índios descobrindo o tempo. Eles se viam crianças, viam seus mortos, ainda vivos e dançando. Seus rostos viam um milagre. A partir desse momento, eles passaram a ter passado e futuro. Foram incluídos num decorrer, num "devir" que não havia. Hoje, esses índios estão em trânsito entre algo que foram e algo que nunca serão. O tempo foi uma doença que passamos para eles, como a gripe. E pior: as imagens de 50 anos é que pareciam mostrar o "presente" verdadeiro deles. Eram mais naturais, mais selvagens, mais puros naquela época. Agora, de calção e sandália, pareciam estar numa espécie de "passado" daquele presente. Algo decaiu, piorou, algo involuiu neles.
Lembrando disso, outro dia, fui atrás de velhos filmes de 8mm que meu pai rodou há 50 anos também.
Queria ver o meu passado, ver se havia ali alguma chave que explicasse meu presente hoje, que prenunciasse minha identidade ou denunciasse algo que perdi, ou que o Brasil perdeu... Em meio às imagens trêmulas, riscadas, fora de foco, vi a precariedade de minha pobre família de classe média, tentando exibir uma felicidade familiar que até existia, mas precária, constrangida; e eu ali, menino comprido feito um bambu no vento, já denotando a insegurança que até hoje me alarma. Minha crise de identidade já estava traçada. E não eram imagens de um passado bom que decaiu, como entre os índios.
Era um presente atrasado, aquém de si mesmo. A mesma impressão tive ao ver o filme famoso de Orson Welles, It's All True, em que ele mostra o carnaval carioca de 1942 - únicas imagens em cores do País nessa década. Pois bem, dava para ver, nos corpinhos dançantes do carnaval sem som, uma medíocre animação carioca, com pobres baianinhas em tímidos meneios, galãs fraquinhos imitando Clark Gable, uma falta de saúde no ar, uma fragilidade indefesa e ignorante daquele povinho iludido pelos burocratas da capital. Dava para ver ali que, como no filme de minha família, estavam aquém do presente deles, que já faltava muito naquele passado.
Vendo filmes americanos dos anos 40, não sentimos falta de nada. Com suas geladeiras brancas e telefones pretos, tudo já funcionava como hoje. O "hoje" deles é apenas uma decorrência contínua daqueles anos. Mudaram as formas, o corte das roupas, mas eles, no passado, estavam à altura de sua época. A Depressão econômica tinha passado, como um grande trauma, e não aparecia como o nosso subdesenvolvimento endêmico. Para os americanos, o passado estava de acordo com sua época. Em 42, éramos carentes de alguma coisa que não percebíamos. Olhando nosso passado é que vemos como somos atrasados no presente. Nos filmes brasileiros antigos, parece que todos morreram sem conhecer seus melhores dias.
E nós, hoje, nesta infernal transição entre o atraso e uma modernização que não chega nunca? Quando o Brasil vai crescer? Quando cairão afinal os "juros" da vida? Chego a ter inveja das multidões pobres do Islã: aboliram o tempo e vivem na eternidade de seu atraso. Aqui, sem futuro, vivemos nessa ansiedade individualista medíocre, nesse narcisismo brega que nos assola na moda, no amor, no sexo, nessa fome de aparecer para existir. Nosso atraso cria a utopia de que, um dia, chegaremos a algo definitivo. Mas, ser subdesenvolvido não é "não ter futuro"; é nunca estar no presente.
SEJA UM IDIOTA
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo,soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?
hahahahahahahahaha!...
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí,o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.
Dura, densa, e bem ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço,não tomar chuva.
Pule corda!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são:
passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...
Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!
Arnaldo Jabor
quarta-feira, 27 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
quilombo dos palmares
"a maior e mais longa experiência de contestação da ordem escravista de todos os tempos"
No fim do século XVI (1580-1600) diversos escravos que escapavam de engenhos de açúcar da capitania de Pernambuco se dirigiram a Serra da Barriga, atual Alagoas, onde ocuparam uma vasta área de mata. Esses ajuntamentos de escravos fugidos eram conhecidos como quilombos, e nesse local começava a se formar o Quilombo dos Palmares.
Cada vez um número maior de escravos chegava à Palmares, alcançando 3.000 habitantes em 1630. Os quilombolas obtinham sua subsistência a partir da coleta de frutos, caça, criação de animais e agricultura. Além de negros e em menor número, alguns índios, mestiços e mesmo brancos habitavam Palmares. Com o crescimento da aldeia, a notícia de que havia uma região em que os negros viviam livremente percorreu as fazendas. E Palmares transformou-se em sonho dos escravos, a meta a ser alcançada. Conseqüentemente a vigilância nos engenhos foi reforçada, e milícias dos fazendeiros começaram a receber apoio do governo de Pernambuco.
Porém com a invasão holandesa em Pernambuco (1630 a 1654) os senhores de engenho descuidaram-se da vigilância das fazendas e os escravos passaram a fugir às centenas, sendo este, um fator primordial da expansão e do fortalecimento dos quilombos. Os próprios holandeses organizaram expedições contra Palmares, foram entretanto, rechaçados pelos quilombolas em 1644.
Após a expulsão dos holandeses, os portugueses iniciam uma violenta guerra, com mais de vinte expedições militares contra Palmares, pois o quilombo se transformou em um verdadeiro Estado autônomo encravado na capitania de Pernambuco, que no auge de sua existência ocupava uma faixa com cerca de 200km de largura paralela a costa, que se estendia do cabo de Santo Agostinho até a margem esquerda do rio São Francisco, onde diversas aldeias (mocambos) estavam distribuídas. Chegou a abrigar entre 20 e 30 mil pessoas, cerca de 13% da população brasileira na época, excetuando-se os indígenas.
Também possuía uma grande produção de artesanato com palha de palmeira (cestos, vassouras, chapéus, leques), de tecidos, de cerâmica e de metalurgia, como o excedente era comercializado se formavam relações econômicas organizadas com comunidades vizinhas (colonos).
De 1954 até 1677 o Quilombo dos Palmares já havia derrotado 24 expedições chefiadas pelos capitães-mor de Pernambuco, dando inicio a tradição marcial da capoeira. Uma antiga toada de Palmares diz "Folga negro, branco não vem cá, folga negro, branco não vem cá, se vier, em farrapos se irá.".
Durante esse período, soldados portugueses aprisionaram uma criança que acredita-se ser Zumbi (nascido em 1655, se tornou um dos maiores líderes de Palmares). Zumbi foi levado e entregue a padres jesuítas, foi batizado como Francisco e passou a ajudar nas missas e estudar português e latim. Com quinze anos de idade, Zumbi foge e retorna a Palmares, no período em que Ganga Zumba (considerado por alguns como o tio de Zumbi) era o chefe do Quilombo de Palmares. Zumbi se mostrou um grande guerreiro e estrategista militar durante as batalhas contra a tropa comandada pelo Sargento-mor Manuel Lopes.
Em 1677 o Capitão-mor Fernão Carrilho, ofereceu a Ganga Zumba um tratado de paz. Por seus termos, era oferecida a liberdade aos nascidos no quilombo, assim como terras para realocá-los. Grande parte dos quilombolas rejeitaram os termos desse acordo, entre eles Zumbi, e permaneceram em Palmares. Gambá Zumba que havia se rendido com cerca de 400 seguidores, morreu envenenado poucos anos depois. Assim o tratado de paz foi quebrado e Zumbi se tornou chefe de Palmares. Tornou-se também um mito, por ter sido educado por brancos e não ter abandonado seu povo e por sua habilidade como guerreiro, seus seguidores acreditavam que ele tinha o corpo fechado e que não podia morrer.
Com o fim da trégua as expedições militares portuguesas continuaram fracassando, até que em 1987 o novo governador de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, chamou o bandeirante Domingos Jorge Velho para exterminar Palmares, famoso pela sua truculência e ganância, era chamado pelos jesuítas de o "maior criminoso do Brasil".
O acordo firmado a coroa portuguesa garantia ao bandeirante as terras de Palmares, propriedade sobre os negros capturados, o fornecimento de armas, munições e alimentos necessários para a guerra, a anistia de todos os crimes que por ventura ele e seus homens cometessem e cem mil réis em dinheiro. O preço era alto, mas os grandes proprietários de terra e de escravos estavam dispostos a fazer qualquer coisa para acabar com Zumbi e Palmares.
Por duas vezes as tropas escravistas tentaram em vão entrar em Palmares, porém os quilombolas eram mais ágeis, mais confiantes e mais fortes, era quase impossível capturá-los vivos. Eram acima de tudo muito superiores na luta corpo a corpo, seus movimentos eram descritos pelos soldados como um jogo de braços, pernas e tronco extremamente ágil e violento.
Em 1693 Caetano de Mello e Castro assume o governo da capitania de Pernambuco, e estabelece como prioridade acabar com o Quilombo dos Palmares. Para tal, ordenou a maior expedição militar do período colonial, uma vez que implicou a mobilização dos quadros militares de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia e Maranhão. O Comando-Geral ficou a cargo de Domingos Jorge Velho, que tinha como braço direito outro bandeirante, o Capitão-mor Bernardo Vieira de Melo.
Então, em janeiro de 1694, com um exército de mais de 8.000 homens munidos inclusive com canhões, Domingos Jorge Velho mandou seus homens erguerem uma cerca junto das defesas de Palmares para encurralá-los. A luta foi difícil, todos os tipos de armas foram utilizados, e até água fervente foi usada pelas mulheres palmarinas na defesa do mocambo atacado, e após 22 dias de resistência, o Quilombo dos Palmares foi ocupado e destruído.
Zumbi e um grupo de soldados conseguiram fugir e, nesse momento, Zumbi substituiu a estratégia de defesa passiva por uma estratégia de guerrilha, com ataques surpresa a engenhos, libertando escravos e apoderando-se de armas, munições e suprimentos e empregando-os em novos ataques. Zumbi foi aprisionado quase dois anos depois, denunciado por Antônio Soares, um tenente de Palmares, que foi aprisionado e entregue a André Furtado de Mendonça, auxiliar de Jorge Velho. Após sofrer torturas, acabou por delatar Zumbi, como condição para obter a sua própria liberdade. No dia 20 de novembro de 1695, André Furtado de Mendonça capturou e matou Zumbi, cortou sua cabeça e exibiu-a em Recife.
Apesar dessa derrota, o povo de Zumbi continuou a resistir. De 1596 a 1716, ano da destruição de seu último reduto, os palmarinos suportaram investidas de 66 expedições militares e atacaram 31 vezes.
O episódio de palmares e a saga de seu principal líder são um importante marco da luta contra o racismo, assim, o dia da morte de Zumbi, foi escolhido como "Dia Nacional da Consciencia Negro".
segunda-feira, 25 de maio de 2009
POR TRÁS DA TELA
Abril de 2005.
Já que a rede avassaladora transmitirá sua verdade única a milhões de brasileiros, cabe aos veículos alternativos o contraponto. A começar explicando a verdadeira idade desta velha senhora. O fato é que a Globo não tem apenas 40 anos, "idade da loba", como definiu uma sorridente Cristiane Torloni no Jornal Nacional desta segunda-feira (25/4). A questão é que revelar sua própria idade implica, nesse caso, algo mais do que assumir as rugas. Vejamos esse trecho do livro A história secreta da Rede Globo, de Daniel Herz: "No ano seguinte, em 1962, a Globo assinou com Time-Life dois contratos e passou a ser subvencionada por milhões de dólares".
A Globo foi montada com US$ 6 milhões de dólares, enquanto a maior emissora da época, a Rede Tupi, havia sido construída com US$ 300.000,00. Os contratos firmados com o grupo Time-Life resultaram numa CPI que não foi muito longe e não chegou a resultados concretos, embora o acordo violasse a Constituição do Brasil. Sobre o grupo Time-Life, o então deputado João Calmon disse: "é um grupo da linha mais reacionária e mais retrógrada do Partido Republicano, exclusivamente interessado em manter, em países como o nosso, bases anticomunistas" (A História Secreta da Rede Globo, página 93).
De fato, o chamado 'perigo comunista' estava em moda na época. Ocupavam o lugar que hoje é ocupado pela 'ameaça terrorista'. E tanto no passado quanto no presente, os meios de comunicação da mídia grande jamais se preocuparam em contextualizar essa temática, optando por reproduzir, sem questionamentos, o discurso dominante. Nesse sentido, o escritor Roméro da Costa Machado, autor do livro "Afundação Roberto Marinho", vai ainda mais longe e afirma, em um de seus artigos que se encontram logo abaixo, ser um erro analisar o contrato da Globo com a Time-Life simplesmente como um caso de violação à Constituição:
- O escândalo Globo/Time Life não é meramente um caso de um sócio brasileiro (Roberto Marinho) que aceita como sócio uma empresa estrangeira (Grupo Time-Life), contra todas as leis do país. O escândalo Globo/Time-Life é mais do que isso. É antes de mais nada um suporte de mídia que visava apoiar, dar base, sustentação e consolidar a ditadura no Brasil, apoiada e supervisionada pela CIA, por exigência dos Estados Unidos, comandado por terroristas da CIA, como Vernon Walters e Joe Walach, sendo este último com emprego fixo na Globo, como "representante" do grupo Time-Life.
No momento em que a Globo tenta reescrever a história lançando livros e organizando uma festa que promete se alongar durante uma semana inteira de modo a tentar convencer o público de que em sua existência não existem pecados, é importante não deixar que todas essas luzes ofusquem o olhar. Não podemos nos esquecer que a Rede Globo nasceu e se criou em meio a troca de favores com a ditatura apoiada pelos EUA; não custa lembrar da manipulação grosseira, em 1984, por ocasião das manifestações pelas "Diretas Já" ou ainda aquela edição, em 1989, que favoreceu Fernando Collor. E esses são apenas alguns poucos casos. Os que ficaram mais famosos em meio a tantos outros.
Por tudo isso preparamos este Especial Globo com o intuito de constituir uma fonte de consulta segura sobre a verdadeira história dessa empresa. De início, onze artigos de Roméro da Costa Machado, que trabalhou durante dez anos na Fundação Roberto Marinho, alcançando o cargo mais alto da Fundação, o de controller, e também o posto de assessor especial de José Bonifácio Sobrinho, o Boni, que foi durante muitos anos o braço direito de Roberto Marinho. Para acompanhar, destacamos o texto produzido pelo coletivo Intervozes, que oferece uma análise precisa sobre a Rede Globo. Boa leitura!
domingo, 24 de maio de 2009
Por que Jango caiu.
“O governo de Jango não cai em razão de seus eventuais defeitos; ele é derrubado por suas qualidades: representa uma ameaça tanto para o domínio norte-americano sobre a América Latina, como para o latifúndio”.
Darcy Ribeiro
O Ibope
A pedido da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, o Ibope realizou pesquisa, durante os últimos dez dias antes do golpe, na maior cidade do país – aquela que, segundo os golpistas, saiu à rua em peso para apoiar a deposição de Jango. Os índices colhidos entre os dias 20 e 30 de março de 1964 mostravam, ao contrário, significativo apoio dos paulistanos ao governo.
Mais de 80% dos quinhentos eleitores entrevistados sabia dos decretos de Jango: encampação das refinarias de petróleo, desapropriação de terras às margens de açudes, ferrovias e rodovias federais; e tabelamento de aluguéis – medidas aprovadas por 64%.
No dia 26 de março o Ibope concluiu oura pesquisa: metade dos eleitores de oito capitais votariam em Jango à reeleição. Não há notícias de que tais pesquisas tenham sido publicadas na época.
Esses dois textos foram extraídos da nova coleção “Caros Amigos”
A história em cima dos fatos.
Esta é a segunda coleção de fascículos Caros Amigos. A primeira foi Rebeldes Brasileiros - Homens e mulheres que desafiaram o poder. A proposta, tanto da primeira como desta segunda coleção, é mostrar episódios e personagens da história do Brasil a partir de nosso ponto de vista, que difere substancialmente do encontrado em trabalhos semelhantes publicados pelas editoras grandes de revistas e jornais, mesmo porque elas defenderam e defendem a elite econômico-financeira que sempre dominou o poder e que não admite qualquer reforma institucional que possa ameaçar seus privilégios. Como aconteceu no episódio que vamos contar nessa série de fascículos, como aconteceu em episódios anteriores e como pode acontecer cada vez que um governo propuser mudanças estruturais ao país.
No caso as editoras grandes apoiaram vigorosamente o golpe de Estado que inaugurou o longo período chamado “anos de chumbo”, a ditadura militar que durou 21 anos., de 1964 a 1985.
A presente coleção, dividida em 12 fascículos que irão para as bancas e livrarias de quinze em quinze dias, descreve em detalhes as diversas fases daquele governo de exceção, a partir da noite de 31 de março de 1964 até a entrega da faixa presidencial a José Sarney, em 15 de março de 1985, após tumultuado processo que culminaria com a volta do Estado de Direito
As mortes dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek de Oliveira e João Belchior Marques Goulart estão sendo investigadas pela Câmara Federal desde maio
INTRODUÇÃO
As mortes dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek de Oliveira e João Belchior Marques Goulart estão sendo investigadas pela Câmara Federal desde maio último. Os dois ex-presidentes morreram em 1976, em circunstâncias que seguem deixando rastros de dúvidas e mistérios. Nenhum dos corpos foi necropsiado antes do sepultamento.
Recentemente, João Vicente Goulart, filho de Jango, autorizou a exumação do cadáver do pai, supervisionada por uma comissão do Congresso. Ao mesmo tempo o deputado Paulo Octávio, casado com a neta de JK, presidirá outra comissão, destinada a investigar o acidente automobilístico que matou o Juscelino na via Dutra. Suspeita-se em envenenamento e acidente provocado nos respectivos casos.
OPERAÇÃO CONDOR
Estas recentes investigações ocorrem na esteira da "Operação Condor", uma aliança político-militar criada para reprimir a resistência aos regimes ditatoriais instalados nos seis países do Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia).
Foi somente com a intervenção de um magistrado argentino, que o governo brasileiro, 15 anos depois da redemocratização, determinou a abertura dos arquivos da ditadura militar (1964-1985). Na Argentina, o juiz Cláudio Bonadío solicitou oficialmente à Justiça Brasileira informações sobre a Operação Condor. Bonadío averigua o destino de 16 cidadãos argentinos (três deles teriam sido sequestrados no Brasil por militares argentinos), entre 1976 e 1982.
No Brasil, Gilmar Mendes, advogado-geral da União, foi o autor do pedido do Planalto que determinou que as Forças Armadas abrissem os arquivos da repressão no período da ditadura militar. Aguarda-se uma resposta até o final de junho, sendo que o julgamento analisará os documentos antes de enviá-los ao Supremo Tribunal Federal, que encaminhará os papéis à Justiça argentina
OS ANOS 70
O início dos anos 70 são considerados os "anos de chumbo" para a América Latina, marcados por golpes militares, que inauguraram ditaduras assassinas em quase todo continente, destacando-se Bolívia (agosto de 1971), Chile (setembro de 1973) e Argentina (março de 1976), entre outros.
No Brasil, onde os militares já estavam no poder desde 1964, a ditadura ganhou força com a publicação do Ato Institucional n0 5 em dezembro de 1968. Em outubro de 1975, o jornalista Wladimir Herzog, militante do Partido Comunista Brasileiro, é torturado e assassinado numa cela do DOI-Codi em São Paulo. Destacam-se ainda a morte sob tortura do metalúrgico ligado ao PCB Manuel Fiel Filho, também no DOI-Codi de São Paulo e o fuzilamento de dois dirigentes do PcdoB em 1976.
Nesse mesmo ano, Jimmy Carter elegia-se presidente dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, com uma campanha baseada na luta pelos direitos humanos, o que poderia representar o fim da colaboração dos EUA com as ditaduras militares na América Latina.
Em setembro de 1977 o jornalista norte-americano Jack Anderson divulgou uma carta redigida pelo coronel Manuel Contreras, chefe da polícia secreta do Chile, endereçada ao general João Batista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações, que em 1979 sucedeu o general Ernesto Geisel na Presidência da República. Na carta, datada de 28 de agosto de 1975, Contreras mostra-se preocupado com a recente eleição nos EUA e os defensores dos direitos humanos na América Latina, citando entre eles o ministro do Chile Orlando Letelier e Juscelino Kubitschek : "Também temos conhecimento das posições de Kubitschek e Letelier, o que no futuro poderá influenciar seriamente a estabilidade do cone sul de nosso hemisfério. O plano proposto por você para coordenar a ação contra certas autoridades eclesiásticas e políticos da América Latina, conta com o nosso decisivo apoio".
Coincidência ou não, Juscelino e Letelier morreram pouco depois da data da correspondência. Juscelino morreu num acidente de carro em 22 de agosto de 1976 e Letelier num atentado a bomba em 21 de setembro. Em 6 de dezembro era a vez de João Goulart, que com 58 anos morria de enfarte nem sua fazenda na Argentina.
OÃO GOULART E AS REFORMAS SOCIAIS
Quando Jânio Quadros, que sucedeu JK, renunciou, seu vice João Goulart encontrava-se na China comunista. Embora sua missão fosse oficial, alguns chefes militares começam a acusar o governo de Jango de esquerdista. Essas acusações faziam parte de uma forte resistência vice de Jânio, que já era feita desde a década de 50, quando João Goulart fora Ministro do Trabalho de Getúlio, responsável por uma significativa elevação do salário minimo. O impasse estava criado. Enquanto as camadas populares e setores da classe média mais progressista estavam com Jango, as elites, representando as oligarquias nacionais e o imperialismo norte-americano eram contra. A solução encontrada foi permitir que João Goulart assumisse a presidência, porém, com a adoção do Parlamentarismo. Sendo assim, Jango não governaria de fato, já que nesse sistema, o poder de decisão está nas mãos do chefe de governo, representado pela figura do Primeiro Ministro, Tancredo Neves naquele momento.
A situação começaria e se inverter em dezembro de 1962 quando através de um plebiscito foi restabelecido o Presidencialismo, representando assim, o apoio popular ao presidente João Goulart e aos segmentos políticos aliados. Nesse momento o governo implanta o "Plano Trienal", elaborado pelo conceituado economista Celso Furtado, que pretendeu inutilmente reduzir o índice inflacionário sem afetar o crescimento econômico. A aposição conservadora aumentaria com a aprovação das "Reformas de Base", com destaque para reforma agrária, que partilharia os latifúndios, a reforma eleitoral, que entre outras coisas, daria condição de voto ao analfabeto, a reforma fiscal, que estabeleceria um critério censitário para pagamento de impostos, além da reforma universitária, que ampliaria o número de vagas nas universidades públicas.
Esta aproximação do governo com uma política de reformas estruturais, culminará com famoso comício de 13 de março de 1964 na Estação Central do Brasil no Rio de Janeiro, onde fica mais explícito o apoio dos partidos de esquerda ao presidente. Enquanto isto, a inflação aumentava, agravando as agitações internas e dando pretexto para o fortalecimento dos setores de direita contrários aos avanços sociais e ao caráter "subversivo" do governo Jango. Nesse contexto, representantes das Três Armas, com apoio de considerados setores da burguesia nacional e da Igreja Católica, combatem abertamente o governo e no dia 31 de março de 1964 desencadeia-se o movimento militar que irá depor João Goulart. Em 1o de abril, João Goulart viajou para Porto Alegre, onde se negou a organizar a resistência, evitando assim uma guerra civil. Exilando-se no Uruguai, participou com Juscelino e Carlos Lacerda da organização de uma Frente Ampla pela redemocratização do país. Em 1973, transferiu-se para a Argentina e logo após o golpe militar sobre o governo de Isabel Perón, foi vitimado supostamente por um ataque cardíaco em 6 de dezembro de 1976.
COMPROMISSO COM A VERDADE
Será em breve a exumação dos restos de João Goulart, já autorizada pela família. O mesmo deverá ocorrer com Juscelino Kubitschek. Os militares se dizem comprometidos com as investigações pela busca da verdade, mas na prática ainda resistem.
O passado é história, mas a história nem sempre é verdade. Caso as investigações das mortes de JK e Jango e da Operação Condor prosseguirem com a devida transparência, o governo estará assumindo um importante papel no compromisso com a justiça e com a democracia. Apesar das feridas não cicatrizadas, ficará a contribuição com o restabelecimento da verdade para a história do Brasil e da América Latina.